Uma história de amor e balas

Virgulino Ferreira da Silva nasceu em 7 de julho de 1897 no estado de Pernambuco, na cidade de Serra Talhada. Seu pai, um criador de gado, repetia com frequência: “Seja homem!”. Essas palavras fazem parte da dura realidade do sertão que todos os pais transmitem aos filhos. A dureza inflexível de seu ambiente moldou Virgulino e o levou a embarcar em uma carreira como criminoso aos 22 anos de idade.

Seu lar era o Sertão, uma região desértica no centro do Brasil. A estepe seca é composta por cactos e arbustos espinhosos, onde frequentemente há falta de água e calor extremo. Às vezes, não cai uma gota de chuva por anos. Essa savana arbustiva cobre o nordeste do Brasil. Alguns grandes proprietários de terras criam gado, mas o restante da população vive na pobreza.

No final do século XIX, a pobreza profunda e a opressão da população do sertão levaram à formação de quadrilhas sem lei. Essas quadrilhas invadiam cidades, fazendas e bases do exército. Ao mesmo tempo, eram generosas com os pobres do sertão. No final do século XIX e início do século XX, esses bandidos, nascidos da pobreza, eram conhecidos como cangaceiros.

Inúmeras lendas e anedotas giram em torno do cangaço. Canções e baladas falam de cangaceiros famosos. Eles mantiveram vivos seus feitos e aventuras. Os filmes prestaram homenagem artística ao cangaço. O cinema mostrou figuras como Lampião e Maria Bonita. Esse reconhecimento alcançou dimensões nacionais e internacionais.

Virgulino cuidou do gado de seus pais até 1918. Durante uma briga de família, a polícia matou seu pai a tiros. Esse trágico acontecimento obrigou Virgulino e seu irmão a fugirem para o sertão. Virgulino procurou soluções. Decidiu buscar o apoio do bando de Sinhô Pereira e se juntar a essa quadrilha itinerante. Essa decisão moldou o resto de sua vida.

“De hoje em diante, vou matar até morrer”, ele jurou. O código de honra do sertão não considera culpados aqueles que são levados a matar por vingança. Em vez disso, suas ações são celebradas como heroísmo.

Virgulino Ferreira da Silva tornou-se o rei do Cangaço. Os pobres o adoravam e o celebravam como o “Robin Hood do Sertão”. Ao mesmo tempo, os ricos o condenaram como um ladrão sanguinário.

Ele deveu seu apelido posterior de Lampião ao clarão do cano de sua arma, que ele modificou. Sua Winchester 73, que ficou famosa em batalhas com a polícia, disparava em rápida sucessão e tinha o brilho permanente de uma lampião.

Já em 1920, ele se tornou o líder de um grupo de cinquenta bandidos cuja crueldade se tornou lendária. Se as vítimas atendiam às suas exigências, havia uma comemoração. Se elas se recusassem, a violência e a tortura eram inevitáveis. Lampião já era um fenômeno em vida, superando sete balas e a perda do olho direito.

O assobio da música Mulher Rendeira anunciava suas invasões. As pessoas sabiam que um ataque estava prestes a acontecer.

O código de honra do sertão fez de Lampião um herói, pois ele se vingou dos assassinos de seu pai. Ele aprendeu a sobreviver no sertão com seu pai e tomou os índios como modelo. Seus cangaceiros usavam uma pegada comum para não deixar rastros. Se um cangaceiro morria, outro levava seu nome para preservar o mito da imortalidade. Relações influentes com políticos e policiais garantiram que Lampião e seus companheiros permanecessem intocáveis por muito tempo.

No auge dessa monstruosidade, o governo brasileiro fechou um contrato com Lampião em 1926. Em troca do fornecimento de armas e uniformes a cento e vinte cangaceiros, a República Velha exigiu a supressão de uma revolta de soldados socialistas.

Em uma noite de julho de 1938, um grupo da polícia militar cercou o Cangaço de Lampião. Lampião, Maria Bonita e outros nove membros da gangue foram mortos. Suas cabeças decapitadas foram preservadas em salmoura e exibidas publicamente até 1969 no Museu da Faculdade de Medicina da Universidade de Salvador da Bahia.

O último Cangaceiro, um sobrevivente do bando de Lampião, foi morto em 1940, encerrando a era dos Cangaceiros.

Lampião, romanticamente considerado por muitos como o "Robin Hood do Sertão", não era nada mais que um grande criminoso. No entanto, sua terra natal deve a ele certo grau de notoriedade. Ainda hoje é possível seguir seus passos. Ninguém mais precisa temer as rajadas de balas de Lampião.

Versão de Joan Baez

O'Cangaceiro

Versão de Paola

Ole O'Cangaceiro